A decisão do juiz federal Diógenes Tarcísio Marcelino Teixeira, da 3ª Vara Federal em Florianópolis, divulgada na
quinta-feira (12) pelo ND, dará mais velocidade às obras da ponte Hercílio Luz, uma vez que a desapropriação de uma área na parte continental possibilitará a realização de uma obra fundamental – a construção da nova base de ancoragem das barras de olhal. A questão judicial se arrastou nos últimos três anos, até que a solução final foi despachada pelo magistrado.
O novo ritmo dos trabalhos deve aparecer nos próximos três meses, embora outros serviços necessários à reabilitação da ponte continuem sendo realizados normalmente. Visitar o canteiro de obras é uma experiência
fascinante nestes tempos de paralisia econômica do Brasil. Ali está a demonstração do que a força de trabalho é capaz de produzir quando há interesse do Estado em investir em obras públicas.
Ver o movimento dos profissionais em diversos pontos do monumento comprova o poder transformador do trabalho, que é base do desenvolvimento econômico em qualquer país. São mais de 300 profissionais envolvidos nas diversas frentes da obra. Do pessoal administrativo e de segurança a operários e técnicos, operadores de gruas, auxiliares, engenheiros, consultores e fiscais. Todos comprometidos com o cronograma estabelecido em comum acordo entre a empresa responsável, a gigante portuguesa Teixeira Duarte, e os gestores do Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura).
Nesse cronograma ainda não há um prazo de conclusão estabelecido, porque a empresa e o governo dependiam da solução judicial para o último obstáculo no caminho das obras, justamente a desapropriação da área de 103 metros quadrados sob a cabeceira continental. Com a liberação do imóvel ainda neste mês de julho será possível projetar o mês certo de 2019 para a entrega da ponte reabilitada para o uso. “A partir de agora, o foco passa a ser o término dos trabalhos, porque agora temos um horizonte”, disse o secretário de Estado da Infraestrutura, engenheiro
Paulo França.
Desafio é testemunhado por engenheiros de todo planeta
O secretário Paulo França observou que a preocupação da sociedade em relação ao andamento das obras é plenamente justificável. “Não é uma obra qualquer, não é uma obra convencional; além do ganho para a mobilidade urbana, é um monumento que representa o Estado”, enfatizou.
Um dos membros da comissão, o engenheiro mecânico Carlos Bastos Abraham, vice-presidente da FNE (Federação Nacional de Engenheiros) e vice-presidente do Senge-SC (Sindicato dos Engenheiros de Santa Catarina), acompanha os trabalhos desde o início, e sempre reforça a dimensão do desafio, que é testemunhado por engenheiros de diferentes partes do planeta por meio de aplicativos da internet. “É a única obra do gênero no mundo na atualidade”, destaca.
“É um trabalho singular da engenharia, por isso desperta tanto interesse, porque é um ‘case’ fundamental para
estudos técnicos e tecnológicos”.
Além da parte pesada, desempenhada pelos operários com a supervisão dos engenheiros, há uma retaguarda profissional de projetistas, engenheiros e profissionais de informática, que monitora todos os processos, todas as intervenções físicas. Esse monitoramento é essencial tanto à precisão técnica quanto à segurança dos trabalhos. O coordenador da obra, engenheiro Wenceslau Diotallevy, que é dos quadros do Deinfra, disse na reunião que “hoje
é um dos dias mais felizes da minha vida, estou enxergando a obra pronta, porque a desapropriação da área no Continente era o último procedimento administrativo necessário para imprimir a velocidade indispensável
às atividades”.
Um cenário antigo com ares futuristas
Ao visitar o canteiro de obras, a sensação que se tem, em muitos momentos, é de que parece o set de filmagem de uma obra de ficção científica, com o contingente de operários empenhado na construção de um cenário futurista totalmente alheio à realidade do cotidiano. É um cenário do passado que ganha peças novas – como as barras de olhal (360 serão trocadas no total) – as longarinas e transversinas (bases de apoio do piso, que já está sendo colocado).
O novo piso não será de madeira, como o original, nem de asfalto, como foi feito na década de 1960. É composto
por placas de aço galvanizado. Tudo é feito de forma artesanal, por isso a obra requer o emprego maciço de mão de obra, num contraste evidente com a situação nacional, de desalento econômico.
Na vistoria, Diotallevy explicou que muitas peças originais deterioradas são analisadas minuciosamente, até que surja uma decisão técnica quanto ao conserto ou troca (o que seja possível). “Isso tudo é artesanal, exige a intervenção direta do operário, com a supervisão de engenheiros e projetistas. Muita gente não tem ideia da complexidade desse trabalho. Mas todos sairão ganhando com a ponte reabilitada e útil à mobilidade urbana”, disse. Tanto França, quanto Diotallevy, enfatizam que a solução para os acessos depende dos estudos feitos pela prefeitura, “mas nós estamos participando, contribuindo”.