O Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul celebra os seus 75 anos de fundação propondo mais um importante debate para a categoria, para o desenvolvimento tecnológico e a soberania nacional. Especialistas, profissionais da área tecnológica e representantes da administração pública e privada participam nesta quinta-feira (22) do Seminário Tecnologia, Inovação e Soberania, realizado pelo SENGE em parceria com a Federação Nacional dos Engenheiros. O vice-presidente do Senge-SC e da FNE, Carlos Bastos Abraham, representa os engenheiros de Santa Catarina no evento.
O engenheiro Alexandre Wollmann, do Senge-RS, deu início ao evento antecipando o tom crítico, porém propositivo dos debates. Ele lamentou a atual situação do País, que vem impactando diretamente a geração de empregos e o horizonte econômico e que, segundo ele, “coloca um enorme ponto de interrogação sobre a cabeça de milhões de estudantes”.
“A Engenharia brasileira, mais uma vez, sofre as consequências da falta de um planejamento de Estado de médio e longo prazo. Mesmo assim, acompanharemos no dia de hoje exemplos marcantes do que pode ser feito neste país a partir da prevalência da tecnologia e da inovação em prol da soberania nacional, hoje ameaçada”, destacou Wollmann, que salientou ainda o caso da Petrobras, detentora de grande potencial tecnológico e cuja Engenharia é reconhecida internacionalmente, mas vem tendo sua imagem e saúde financeira abaladas pelo aproveitamento político do seu patrimônio, que é de todos os brasileiros.
“Perguntem aos engenheiros e aos demais profissionais da Petrobras sobre o orgulho de trabalhar na companhia e ouvirão deles como estão sendo tratados a partir das denúncias da lava jato. Isso não é justo!”, criticou Wollmann. O engenheiro manifestou ainda o posicionamento crítico do Senge em relação à política de esfacelamento da ciência e da tecnologia no Estado, a partir da extinção de estruturas como a Cientec e a Fepagro, dois dos mais significativos núcleos de conhecimento e pesquisa de grande importância socioeconômica para toda a cadeia produtiva.
“Cabe à Engenharia, através das suas entidades representativas, externar sua excelência e o seu compromisso para com o desenvolvimento, e não deixar sem o devido contraponto a manipulação da opinião pública” disse Wollmann. “Os cases da Embraer, na indústria aeronáutica, e da Petrobras, na exploração do petróleo em águas profundas, são as respostas que nós, os engenheiros brasileiros, damos àqueles que não se importam com a soberania nacional. Acreditamos na Engenharia como solução dos graves problemas que afetam todos os cidadãos deste país. Conhecimento não nos falta. Compromisso não nos falta. Mais do que resistir, devemos nos manter unidos e mobilizados para avançar”, afirmou.
Na oportunidade o dirigente do Sindicato também salientou a importante conquista da mobilização realizada junto aos deputados estaduais pela retirada da pauta de votações da PEC que determinaria o plebiscito para venda da CEEE, CRM e Sulgás. Saudou também a Comissão de Assuntos Sociais do Senado, que na última terça-feira (20) rejeitou o projeto da Reforma Trabalhista.
Na sequência, o presidente da Federação Nacional dos Engenheiros, Murilo Pinheiro, saudou a passagem dos 75 anos do Senge e a iniciativa de reunir os engenheiros para discutir e apresentar propostas factíveis para o crescimento e desenvolvimento do país. “Esse seminário é um momento muito especial para discutirmos questões do País e buscarmos o protagonismo através da área tecnológica. Quando falamos em soberania e inovação, temos que buscar elevar o protagonismo da Engenharia para cumprir esse papel”, afirmou o presidente.
O dirigente da Federação salientou também a importância da Engenharia na sociedade, no subsídio às políticas públicas de infraestrutura e desenvolvimento. “A Engenharia está presente em tudo, mas as vezes não participa das discussões e decisões. Nem sempre os engenheiros são ouvidos. Nós precisamos nos unir e buscar o protagonismo. Em qualquer questão que envolva a área técnica, os profissionais precisam ser ouvidos. No momento da maior crise brasileira, a saída é pela inteligência e pela tecnologia” afirmou.
Na oportunidade Pinheiro apresentou as iniciativas promovidas também pela Federação Nacional dos Engenheiros como o projeto Cresce Brasil e Engenharia Unida, e a Isitec, a primeira faculdade montada por uma entidade sindical, gratuita e em período integral.
“O Senge, a Federação e o CREA dão o exemplo de discussão técnica, visando buscar propostas para as questões nacionais, sem partidarismo e preocupados com a Engenharia. Parabéns ao Senge pelos 75 anos e vamos à luta, sabendo que juntos fazemos a diferença e que o Brasil é muito maior do que esta crise”, concluiu o presidente da FNE.
O presidente do CREA-RS, Melvis Barrios Jr, também salientou a importância da tecnologia para a soberania nacional. “O Brasil não pode, como nona economia do mundo, ser um consumidor de tecnologia. O grande campo do século XIX é a geração de tecnologia e aí a Engenharia tem papel fundamental.”
O dirigente do Conselho também criticou a falta de incentivo ao desenvolvimento de pesquisas tecnológicas no Estado e no País. “O que se faz com o dinheiro no País? O que se faz com o PIB? O grande mercado da Engenharia no mundo é desenvolver e não consumir tecnologia. Por isso esse debate de hoje é fundamental. Não vamos industrializar o Brasil sem infraestrutura. O Rio Grande do Sul aplica 0.9 do PIB em infraestrutura, enquanto estudos internacionais demonstram ser necessário investir 1.5. Esse cenário dificulta a atração de investimentos. Em Rio Grande temos a terceira maior estrutura do mundo para criar plataformas, e o investimento foi abandonado quando podíamos estar gerando mais de 30 mil empregos na região. Não é admissível uma política de desnacionalização e sucateamento da Engenharia brasileira”, disse Melvis.
“É preciso o enfrentamento, mudar a gestão do País e instaurar uma política de preservação do conhecimento e da tecnologia brasileira. Não podemos ser um grande Paraguai. Precisamos ter a capacidade de gerar tecnologia e produzir os bens que o Pais necessita”, concluiu o presidente do CREA.