A conta de luz tem pesado cada vez mais no bolso dos brasileiros, com um aumento de 177% em 15 anos, no período entre 2010 e 2024. Em relação à inflação no mesmo período, o aumento nas tarifas de energia elétrica foi 45% superior. Por isso, a previsibilidade nas contas e a busca por alternativas, incluindo as energias renováveis, estão cada vez mais presentes.
No entanto, poucos brasileiros consideram que entendem bem as fontes renováveis, apontou a pesquisa “Futuro da Energia”, realizada pela LUZ, plataforma de controle do consumo de energia, em parceria com a empresa de pesquisa Futuros Possíveis. Entre os respondentes, 84% disseram entender “pouco ou nada” sobre fontes de energia como solar, eólica e outras.
Segundo os autores, isso pode se dar devido à novidade dessas fontes, mais recentes do que os combustíveis fósseis, a um atraso na modernização regulatória do setor elétrico e à falta de informações de qualidade oferecidas na educação ou nos meios de comunicação, por governos, empresas e mídia.
É importante destacar também que a energia hidrelétrica, principal fonte utilizada no Brasil, é considerada renovável. Mas, como ela depende da chuva reabastecer os reservatórios das usinas, em períodos de seca usinas a carvão ou gás natural podem ser acionadas — as duas fontes são fósseis e emitem gases que causam as mudanças climáticas.
Muitas pessoas nem sequer sabem que algumas energias renováveis podem ajudar na economia da conta de luz com redução de impostos e tarifas. “Acho que essa informação não é muito difundida. Uma das maiores dificuldades na hora de abordar um consumidor é fazer ele entender que estaria injetando uma energia limpa mais barata na rede dele e da distribuidora, e que isso vai fazer com que ele tenha uma economia. Muitas vezes o consumidor fica receoso, acha que é golpe”, relata Luiza Pinto, líder de operações da LUZ Energia.
O levantamento ouviu 2.089 consumidores brasileiros, com 25 anos ou mais, responsáveis pelo pagamento de contas de energia, entre os dias 14 de março e 2 de abril de 2025. A margem de erro é de 2,1 pontos percentuais.
Previsibilidade
Segundo a pesquisa, os brasileiros desejam maior clareza sobre qual será o valor das próximas contas de luz, mas ainda sofrem para conseguir. Quase todos os participantes disseram desejar uma previsibilidade (96%), mas apenas 13% monitoram o consumo ativamente. Entre os respondentes, 84% afirmam que se surpreendeu com o valor da conta em algum momento no último ano.
No Brasil, ainda não é difundida a utilização de aparelhos que permitem a visualização de contas de luz, mais comuns em outros países, e que permitem saber quais aparelhos da casa gastam mais.
“Há um desconhecimento a respeito de como fazer essa medição antes. Se não sabe como o gasto está sendo calculado, é difícil fazer previsão mais otimista”, comenta Marcelo Gripa, cofundador e diretor de operações da Futuros Possíveis.
Assim, resta aos brasileiros tentar se adaptar: 53% precisaram ajustar o orçamento familiar para acomodar os aumentos e 62% adotaram mudanças de hábito como principal forma de economia.
Ainda assim, 76% disseram que a conta de energia pesou mais no bolso em 2024. O pessimismo também aparece entre os consumidores, já que 64% acreditam que a conta de energia vai ficar mais cara nos próximos 12 meses.
Outro fator para tornar difícil de prever o valor a ser pago é a complexidade da própria conta de luz. “É uma sopa de letrinhas, muitas vezes miúdas. Há muitas dúvidas dos consumidores sobre tarifas, impostos, tem uma série de siglas que quem não consegue se aprofundar não entende. A responsabilidade é total das empresas para o cliente saber no que ele está gastando”, afirma Luiza.
A modernização regulatória, com a criação do mercado livre de energia, é outro fator que pode ajudar, ao permitir que os consumidores escolham a provedora de energia de suas casas, o que ainda não é possível para consumidores residenciais.
“É impossível exigir maturidade do consumidor num setor que ficou para trás, onde ele estava no escuro até agora. Com a possibilidade de abertura de mercado começaram a surgir notícias de empresas tentando trazer soluções, mas é uma enxurrada de informação, tudo muito novo, pouco acessível”, avalia a diretora da LUZ.
Assim, cabe às empresas trabalhar a parte de comunicação em um papel educacional, ao mostrar as alternativas para ter maior previsibilidade nas contas, economia e ainda emitir menos gases poluentes.
Fonte: Estadão